Quando há mar à vista,
as velas logo
se eriçam.
*
É para o longe
que o leme
aponta.
*
E, quando a manhã
intumesce de vermelho
o horizonte,
*
a brisa marinha
faz ecoar
o chamado da sereia.
O traço na página em branco
cava a palavra,
que tomba em gruta
profunda.
*
O eco da palavra escavada
distorce o sentido.
Inventa uma outra
vertigem.
*
A página em branco é caverna
de paredes e ásperas entranhas.
Precisa da teima e da urgência
de quem a percorre.
*
A sombra do traço entrevisto
ganha a cor do desejo imaginado.
Eis a magia que propicia
a coisa.
*
A coisa que – sólida –
o desejo inventou,
e o traço riscou
na parede branca e muda.
(Analice Martins)
Sem cortinas,
a casa é o fora:
a rua que entra,
o verde espelhado.
*
Sem cortinas,
o dentro da casa
é nudez devassada
e cores à mostra.
*
Com cortinas,
o fora é lá fora:
a rua se encolhe,
e o verde se encobre.
*
Com cortinas,
a casa é só o dentro:
corpo privado
e cores escondidas.
I
II
(Analice Martins)
*
(Analice Martins)